A Sacudidora de Palavras

“ – Alguma coisa boa para comer na sua casa hoje? – Perguntou Rudy.

– Duvido.

 – Eu também. É uma pena a gente não poder comer livros.”

(A Menina que Roubava Livros - Markus Suzak)

 As palavras podem libertar e acorrentar. Para Liesel Meminger tiveram ambos os efeitos. A curiosidade em juntar as letras fez da parede do porão sua lousa, e das tintas do pai seus lápis de cor. Ela tinha fome, e a escassez da sopa rala de ervilha a fazia ‘comer’ cada página dos livros que chegavam ao seu poder de modo suspeito.

Com as palavras Liesel disfarçou o nervosismo de um grupo de alemães amontoados num porão devido aos bombardeios acima de suas cabeças. Com as palavras Liesel devolveu a ânsia de viver ao judeu trancafiado, impedido de ver até as estrelas. Uma a uma, as pessoas foram arrancadas de sua vida. O que lhe falar sobre beleza e brutalidade que ela já não soubesse? Agora a tristeza a faz lembrar do livro que lhe salvou a vida, do que foi feito especialmente para ela. E um pensamento lhe ocorre: “Odiei as palavras e as amei, e espero tê-las usado direito.”